Há algum tempo atrás, quando trabalhava na área de seleção de profissionais de enfermagem, depois de aprovados na seleção, costumava realizar uma entrevista prévia antes que estes começassem a desempenhar as suas funções e sempre que tinha a oportunidade lhes contava uma história sobre humanização. Ela á mais ou menos assim:
Ninguém precisa falar para um cachorro que ele deve correr atrás de um gato... Fazer "pipi" no carpete ou tapete... Morder os cantinhos do sofá ou aquele seu sapato que ficou dando bola lá na porta...
Ninguém precisa explicar para o gato que ele deve ficar se alisando no dono... Que ele deve gostar de leite... e que bem no meio da madrugada, deve subir nos telhadas e fazer aquela serenata terrível para os nosso ouvidos....
Ele faz todas estas coisas naturalmente... por extinto, sem que ninguém precise lhes ensinar ou exigir....
Então, afinal, em que mundo nós estamos vivendo... Um mundo em que é necessário pedir ao Ser Humano que seja mais HUMANO...! Os animais que são considerados "irracionais" agem de acordo com seus instintos e os "racionais" tem de ser forçados ou estimulados a agir de acordo com sua natureza...
Mas, porque será que isso tem acontecido?
Aqueles que são mais antigos podem se lembrar das tardes na calçada, conversando com os visinhos; das reuniões de família, coordenadas pelo patriarca ou matriarca; das brincadeiras na rua com as outras crianças (esconde-esconde, queimada, bambolê, corda e muitas outras...). Você deve estar pensando onde eu quero chegar... é só comparar aquele tempo com os dias atuais: famílias trancadas em suas casas com grades nas janelas e correntes nos portões; famílias que quase nunca se encontram, nem mesmo na hora das refeições, sendo que estas normalmente não acontecem mais em mesas, como antigamente, mas em frente a uma televisão; pouco se conhece da vida e das dificuldades enfrentadas pelos membros das famílias, pois não há intimidade para se abrirem ou então estão muito ocupados com a novela, filme, big-brother... As crianças ficam grudadas aos computadores, videogames e outros aparelhos eletrônicos....
Não quero aqui defender que o avanço tecnológico deva ser deixado para trás, mas evidenciar como esta nova realidade eletrônica tem afastado o contato humano, juntamente com a violência e crescente desconfiança do ser humano.
Não é diferente na área da saúde... A evolução tecno-científica dos serviços de saúde não tem sido acompanhada por um correspondente avanço na qualidade do contato humano. O planejamento de saúde, na maioria das vezes, subestima e desconsidera as circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas ligadas a saúde e a doença. Rstudos mostram que uma infinidade de mal entendidos e dificuldades enfrentadas pelos usuários e trabalhadores no ambiente hospitalar podem ser minimizados, quando se ouve, compreende, acolhe, considera e respeita tanto os usuários, como aqueles que cuidam - atores essenciais para a humanização.
Humanizar o ambiente hospitalar é resgatar e fortalecer o comportamento ético, articular o cuidado técnico-científico, com o cuidado que incorpora a necessidade de acolher o imprevisível, o incontrolável, o diferente e singular. Mais do que isso, humanizar é adotar uma prática em que profissionais e usuários considerem o conjunto dos aspectos físicos, subjetivos e sociais, assumindo postura ética de respeito ao outro, de acolhimento do desconhecido e de reconhecimento de limites.
Humanizar é, portanto, alcançar benefícios mútuos para a saúde dos usuários, dos profissionais e da comunidade e acima de tudo responder positivamente a ordem gravada em nossos corações.
Por Ana Carolina Abrahão Lazarini
2 comentários:
Parabéns pelo blog.... e muita força nesse ano para conquistar seus objetivos!
Seu trabalho é maravilhoso...Parabéns.
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